O monstro da inflação e o Bond Boca

Por: Sandro Prado

Sempre gostei de me referir a inflação como um monstro e, a cada dia que passa, mais me convenço que é exatamente isto que ela é! Quando penso nela vem logo a minha mente uma lembrança da infância, um comercial de televisão que utilizou na época a estratégia de comunicação com apelo emocional negativo. Era a propaganda do enxaguante bucal CEPACOL onde o super herói criado para a campanha publicitária chamava-se Bond Boca. A cena ocorria no interior de uma boca onde inúmeros monstros, representando os germes, atacavam e destruíam os dentes e, quando Bond Boca chegava e esborrifava o enxaguante, todos eram exterminados.

Com esta imagem de infância cheguei a Universidade Pública para cursar Economia e logo quis saber sobre esta tal inflação e como destruí-la. Descobri que definir inflação é simples e que ela pode ser observada na economia real como sendo o aumento do preço médio dos bens e serviços e que percebemos a sua voracidade destruindo diariamente o poder de compra da moeda. Ou seja, o que você compra hoje com uma cédula de 100,00 daqui a um ano, com esta mesma quantia, você comprará muito menos. Também descobri que exterminá-la não é algo tão simples assim!
E porque compará-la a um monstro? A inflação realmente se assemelha aos monstros da propaganda do CEPACOL destruindo o valor do dinheiro e prejudicando, principalmente as famílias com menor renda. Para as pessoas que estão enquadradas no grupo 40+ e lembram dos anos 80 sabem bem do tal monstro que estou falando e, as pessoas mais novas que possuem um nível cultural e educacional razoável, certamente estudaram na escola sobre o período e viram o tamanho da bronca.

Em 1994, no Governo Itamar Franco, o monstro da inflação começou a ser domado com o Plano Real e, em plena década de 20, quando a gente acha que ela está quietinha e trancafiada na masmorra, eis que ela tenta novamente escapar. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 0,93%, no mês de março, acumulando nos últimos 12 meses alta de 6,10% e quando observamos o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que é utilizado para reajustar grande parte dos contratos de locação no Brasil, ele elevou 2,94% no mês de março, alta acumulada de 31,10% nos últimos 12 meses.

Além da aceleração da inflação também estamos com altos Índices de Desemprego: 14,3 milhões de brasileiros sem emprego e cerca de 19 milhões passando FOME. Perspectivas de Crescimento Econômico? Bem, toda Economia quando despenca e bate no fundo tende a ter alguma reação positiva, mas parece não ser o caso do Brasil neste primeiro semestre. Estagflação? Parece que caminhamos para ela. Solução? Presença do Estado como indutor das atividades econômicas.

Apesar de todo o pantim o Governo Federal injetará cerca de 44 bilhões de reais na economia, com a nova rodada do Auxílio Emergencial, confira no artigo publicado nesta segunda (12) no Jornal do Commercio em parceria com a Dra. Priscila Lapa. E o monstro da inflação? Sem políticas econômicas eficientes e eficazes tende a acelerar e o acumulado do mês de abril, certamente será maior do que o de março, infelizmente!

Sem a atuação esperada do Sr. Paulo Guedes e sem nosso herói destruidor de monstros, o Bond Boca, só nos resta ações altruístas de grupos de pessoas como a campanha de arrecadação e distribuição de alimentos do Observatório Popular de Olinda – @observaolinda.

Sandro Prado é economista