Priscila Lapa, cientista política
Um dos temas com grande repercussão nacional ao longo da semana ainda foi a substituição do comando da Petrobras. Primeiro porque representa uma contradição à agenda liberal da era Bolsonaro; segundo, pelo fato de termos mais um militar a ocupar cargos estratégicos no governo. O mercado ficou arrepiado com a medida; a população, dividida, conforme mostrou a pesquisa XP/Ipespe, realizada nos dias 22 e 23 de fevereiro. 40% dos entrevistados acreditam que o presidente agiu errado substituindo o comando da estatal; 38% aprovaram a medida. 25% julgam que o Executivo não deve interferir nos preços dos combustíveis. Já 41% defendem que alguma interferência deva existir (como limitar os aumentos de preços em intervalos menores do que três meses), ainda que o mercado tenha liberdade para defini-los.
Por outro lado, em razão da proporção de avanço da pandemia, há sinais claros de que o sistema de saúde brasileiro entrará em colapso nos próximos dias. Rede pública e privada vivem seus piores dias, em razão da rapidez do contágio. A Fiocruz apontou nesta sexta-feira (26) que em 17 capitais as UTIs estão lotadas. O ministro da saúde Eduardo Pazuello já se rendeu à realidade e, em reunião com secretários estaduais e municipais de saúde, afirmou que a nova etapa da pandemia vivida neste momento pode surpreender os gestores, pela gravidade. No entanto, o presidente insiste em seu discurso contrário à realidade. Fala em ter sua opinião sobre o uso de máscaras, insistindo em contrariar no que é primário. Não precisamos de opiniões pouco fundamentadas. Precisamos de coragem para encarar o desafio e ter um líder que assuma a sua parcela de responsabilidade.
Nesta semana a Câmara dos Deputados buscou dar respostas à sociedade sobre um tema espinhoso: o decoro parlamentar. Assim, o Conselho de Ética voltou a funcionar e abriu processos para investigar a conduta dos deputados Daniel Silveira (PSL-RJ) e Flordelis (PSD-RJ). Mas, com a outra mão, colocou em tramitação a PEC da imunidade parlamentar, com novas regras inclusive para a prisão de deputados e senadores. O fato é que não há consenso sobre a matéria, sobretudo pelo contrassenso de se votar algo desta natureza quando o país atravessa o pior momento da pandemia. Projeto aprovado no Senado que permite a compra de vacinas por entes privados está parado na Câmara. Nem quando o mundo inteiro padece do mesmo mal, a saúde é prioridade no Brasil.