Quase dois anos após deixar o PSL, partido pelo qual se elegeu presidente da República, Jair Bolsonaro tenta acertar sua volta ao PP, sigla que ele iniciou sua carreira política. Nesses período, o presidente e seus aliados fracassaram na tentativa de criar do zero uma legenda, a Aliança pelo Brasil. Segundo dirigentes do PP, basta Bolsonaro bater o martelo para se filiar.
O centrão, hoje é a base de sustentação política do governo no Congresso. Na linha de frente dessa aliança estão o presidente do PP e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).
Dos integrantes da cúpula do PP, 90% dos diretórios estaduais da sigla concordam em receber Bolsonaro. A maior resistência está no Nordeste, principalmente na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia. Mesmo assim, segundo Ciro Nogueira relatou em conversas reservadas, isso não é mais um entrave.
O próprio Lira, que temia que a entrada de Bolsonaro pudesse atrapalhar sua tentativa de reeleição no comando dos deputados em 2022, já aceitou a migração do presidente. Em troca da filiação, Bolsonaro teria o direito de escolher os candidatos ao Senado de estados considerados chave, como mostrou a Folha nesta semana.
Além de comandar a Câmara, o PP tem a quarta maior bancada da Casa, com 42 deputados. Também tem a quarta maior bancada do Senado, com 7 parlamentares.
Antes de avançar nas conversas com o PP, porém, Bolsonaro e seus articuladores negociaram o ingresso em várias outras legendas, como os nanicos PRTB e Patriota, e o PTB de Roberto Jefferson, hoje preso no bojo das investigações sobre suposta organização criminosa digital voltada a atacar as instituições e a democracia.
Tanto no PTB quanto no Patriota, a possibilidade de filiação de Bolsonaro e dos bolsonaristas acentuou crises internas.
O PTB, que com a prisão de seu presidente está interinamente sob o comando de Graciela Nienov, anunciou que irá expulsar Cristiane Brasil, filha de Jefferson, em meio a troca de acusações de interferências nas negociações para o ingresso de Bolsonaro.
No Patriota, o então presidente da legenda nanica, Adilson Barroso, um entusiasta da filiação de Bolsonaro, foi defenestrado do comando durante uma confusa realização de reuniões para tentar aprovar a entrada do presidente.
O senador Flávio Bolsonaro (RJ) chegou a se filiar à legenda, mas também deve sair. “Na verdade, o movimento feito pelo ex-presidente do partido foi através de ações irregulares, razão pela qual não concordamos e tomamos as medidas judiciais cabíveis, que culminou com o seu afastamento definitivo do cargo”, disse Ovasco Resende, que assumiu o posto de Barroso.
“O partido continua trabalhando para cumprir o seu principal objetivo, que é ultrapassar a cláusula de barreira [que retira verba de siglas com poucos votos nas eleições], agindo de forma democrática”, disse Ovasco Resende, que assumiu o posto de Barroso”, completou.
O plano A de Bolsonaro era criar um partido no qual tivesse total comando. Para isso, deu largada em novembro de 2019 ao Aliança pelo Brasil, em um evento em Brasília ao qual compareceu sob gritos de “mito” e ao lado da primeira-dama, Michelle, e de três de seus cinco filhos: o deputado federal Eduardo (PSL-SP), o senador Flávio e Jair Renan, iniciante na vida política.
Quase dois anos depois, porém, o projeto se mostrou um fiasco. A expectativa anunciada em 2019 era a de que o partido bolsonarista fosse criado a tempo de disputar as eleições municipais de 2020, objetivo logo abandonado. A esse revés inicial se somou a chegada da pandemia, o que dificultou ainda mais a coleta de apoio.
O empresário Luís Felipe Belmonte é vice-presidente da legenda em formação, mas, na prática, é o principal responsável por ela. O presidente formal é Bolsonaro, que há tempos abandonou qualquer articulação efetiva em prol do partido. O outro vice é Flávio Bolsonaro.
“Enquanto estiver no prazo, vamos continuar trabalhando. Só vou falar que não deu depois que não der, mas, por enquanto, estou achando que dá”, diz Belmonte.
Em seis meses, o Aliança tem que conseguir completar nos cartórios eleitorais a validação da assinatura de 492 mil eleitores para pedir seu registro ao Tribunal Superior Eleitoral. Em quase dois anos de recolhimento de apoio, porém, só conseguiu 140 mil fichas consideradas aptas.
Bolsonaro já passou formalmente por oito agremiações desde que se elegeu vereador, em 1988, e durante seus sete mandatos como deputado Federal.
O número é inflado, porém, pela constante alteração de nomenclatura e fusões na sopa de letras que forma o quadro partidário brasileiro desde a redemocratização.
A origem da maior parte das siglas de Bolsonaro está na Arena, partido de sustentação do regime militar (1964-1985). Sua eleição para vereador se deu pelo PDC, partido que depois se fundiria ao PDS, herdeiro direto da Arena, formando o PPR. Algumas fusões e mudanças de nomenclaturas depois levaram a sigla a desembocar no PP dos dias atuais.
Bolsonaro ainda teve breve passagens pelo PFL (que depois virou DEM e deve se transformar agora em União Brasil, após a fusão com o PSL) e PTB, voltando ao PP em 2005, onde ficou por cerca de 10 anos.
Em 2016 migrou para o nanico PSC na expectativa de se lançar candidato a presidente. Sem apoio político interno, porém, saiu novamente e, após negociar com outras siglas, se filiou ao então nanico PSL.
Descontadas as fusões e troca de nomes, Bolsonaro esteve filiado em toda a sua carreira a cinco partidos diferentes: PP e suas variações, PFL, PTB, PSC e PSL.