Com a popularidade em queda, a grave crise econômica e o desgaste provocado pela CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro partiu de vez para a campanha eleitoral antecipada e tem buscado medidas populistas para tentar um segundo mandato.
O chefe do Executivo tem viajado o país ao lado de aliados, entre os quais integrantes do Centrão, líderes evangélicos e ministros, num ritmo frenético, semelhante ao de campanhas eleitorais.
Nesta semana, por exemplo, está entregando obras de infraestrutura hídricas que fazem parte da Jornada das Águas, ações em cidades do semiárido. O foco é a conquista, principalmente, do eleitorado nordestino, que, em geral, ainda é fiel ao ex-presidente Lula, líder das pesquisas de intenção de voto.
Bolsonaro tenta mudar essa realidade com medidas que devem sair caro à União, em um momento de grave crise nas contas públicas. Ele tem apostado no Auxílio Brasil — o substituto do Bolsa Família —, no valor de R$ 400, como principal arma para 2022. O novo programa ainda não tem fonte de custeio definido, mas a ordem do presidente é fazer o que for preciso para lançá-lo ainda neste ano.
Além disso, afirmou que criará um benefício para 750 mil caminhoneiros autônomos para compensar o aumento do diesel (leia reportagem ao lado). O anúncio foi feito ontem, durante cerimônia de inauguração do Ramal do Agreste, em Sertânia (PE). No evento, ele culpou governadores pelo aumento da inflação, por causa das medidas restritivas adotadas pelos gestores no combate à pandemia.
Nos eventos oficiais, Bolsonaro tem usado o palanque para inflar seus apoiadores radicais contra o PT.
Em Sertânia, disse que “o país sabe o que não quer”. Apesar do tom de comício, negou que esteja fazendo campanha. “Ninguém veio aqui falar de eleições, ninguém veio falar de 2022, mas nós devemos nos preocupar”, frisou. “Cada vez mais, temos deixado para trás o vermelho, que representa o ódio, a intriga, a divisão de classes, a corrupção e o atraso.” Segundo ele, “querer a volta desse que afundou o Brasil em corrupção, em descumprimento de legislação e em desesperança, é querer o próprio fim”.
Mais cedo, em São José de Piranhas (PB), Bolsonaro atacou Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid. Disse que chamar o parlamentar de “vagabundo” é elogio: “Não há maracutaia lá por Brasília que não tenha o nome do Renan envolvido”, disparou. No relatório, o senador pede o indiciamento do presidente por nove delitos, incluindo crime de responsabilidade e contra a humanidade.
Presente à cerimônia, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), ressaltou que o relatório da CPI merecerá “a lata do lixo da história política do Brasil” e ainda chamou a comissão de “inócua”. “Não teve a dignidade de escrever uma letra para reconhecer o esforço do governo federal no enfrentamento da pandemia”, frisou.
No mesmo tom de campanha, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, outro que acompanhou o presidente na Paraíba, endossou as críticas a gestores estaduais. “No passado, um consórcio de governadores disse que ia trazer vacinas (ao país). Quantas vacinas eles trouxeram? Nenhuma. Todas as vacinas foram trazidas pelo governo do presidente Bolsonaro, e as vacinas só têm um dono: o povo do Brasil”, discursou.