Por Priscila Lapa
A semana transcorreu com idas, vindas e reviravoltas, que nos transpuseram para 2022, nos desconectaram do presente, visitaram nosso passado recente e exauriram a nossa capacidade analítica. Mas nada disso mudou a dura realidade: estamos no momento crítico da pandemia, ultrapassando números de infectados e mortos que constavam nas piores projeções feitas por especialistas.
Foi uma semana de especulações sobre a volta de Lula ao cenário eleitoral e sobre quem seria o adversário dos sonhos do presidente Bolsonaro, enquanto isso capitais, médias e pequenas cidades viam a ocupação de leitos atingir a sua capacidade máxima e a lista de espera se avolumar, causando pânico e perdas, muitas perdas de vidas humanas.
Assistimos ao palanque literalmente armado do ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro alterando o discurso para se mostrar como alguém que sabe conduzir a crise de saúde pública. Acompanhamos o filho do presidente vociferar palavras de ódio, tripudiar das recomendações dos especialistas sobre o uso de máscaras; o Congresso votando a PEC do teto de gastos e sem conseguir consenso sobre questões essenciais, como o fôlego da nova rodada do auxílio emergencial; e o ministro trapalhão da saúde em suas idas e vindas sobre a perspectiva de doses de vacinas (nada concreto, mas para que pressa?), dizendo que “o sistema de saúde brasileiro não colapsou e nem vai colapsar”.
Mas o que mais marcou mesmo a semana de bizarrices foram os ministros do STF e suas posturas de tentar explicar o inexplicável, com argumentos plausíveis de que no Estado democrático de Direito o devido processo legal tem que ser seguido, mas, ao mesmo tempo, se posicionando como verdadeiros atores políticos. Pior: postergando o ponto final de uma novela que agora parece moldar o enredo ao contexto.
Ao final, o que cidadão não percebeu disso tudo? Que os maiores prejudicados são aqueles que estão entregues a sua própria sorte, perante a ineficiência do Estado em proteger vidas. Que o pesadelo da pandemia não precisa de novas variáveis para se tornar a maior tragédia brasileira, por qualquer ângulo de que se olhe. Que a gasolina subiu de novo nas refinarias e a vacina não vai chegar nem tão cedo para todos. Nos perdemos como país, nos perdemos como sociedade, de tal forma que não conseguimos nos livrar da cortina de fumaça que não nos permite enxergar que a prioridade é a vida, a nossa vida. O resto é política, com “p” minúsculo.
Priscila Lapa é Cientista Política e colunista do Blog