Por Priscila Lapa
Quando a CPI da Covid ainda iria iniciar seus trabalhos, no final do mês de abril, um grande debate nacional foi travado em torno do “palco” político que ela poderia se tornar. À época, escrevi que esse seria um dos seus efeitos colaterais, mas lembrava que o julgamento do público se daria para todos os seus atores, e não apenas para o Governo que estaria em xeque.
Como na era do ativismo digital, da democracia de público, não termos uma CPI transformada em um espetáculo midiático? Como, em tempos de extremos, em tempos de raros debates republicanos, de fãs clubes políticos, não termos sessões tumultuadas, marcadas por bate-bocas e muita, muita histeria?
Mas agora parece que tivemos um ápice desses fenômenos, com o depoimento dos irmãos Miranda. Um dia antes do depoimento deles, a tropa de choque governista veio a público tentar provar a inocência dos envolvidos, com destaque para o ministro Onyx Lorenzoni, cuja versão para os fatos foi desmentida até pela Precisa Medicamentos, responsável pela importação da vacina indiana Covaxin.
Senadores governistas tumultuaram os depoimentos, de forma que as conexões entre os fatos narrados só se evidenciaram quando passou o calor das emoções. Os de oposição só faltaram chorar ao vivo.
Agora os olhos estão todos voltados para os próximos acontecimentos. Há notícias de que a ex-mulher do ex-ministro Pazuello quer depor na CPI. Há a expectativa de aparecimento de áudios e outros elementos que podem comprometer gestores. Enquanto isso, prossegue o show de horrores das mortes por Covid no Brasil, com mais de 513 mil mortos. Segue também, a pleno vapor, a campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, que passeia de moto pelas cidades e repete os gestos tão conhecidos de quem quer o voto a todo custo.
Mas a população, em grande parte, culpa a mídia pela transformação da política em espetáculo. Para essas pessoas, são os veículos e os jornalistas que querem bagunçar tudo. São eles que querem derrubar governos. Uma dose de mea culpa não faria mal a ninguém. Nem aos políticos.
Priscila Lapa é jornalista e cientista política