Vazamento de dados gera corrida por serviços de segurança

Por Patrícia Raposo
Movimento Econômico
 
Os últimos vazamentos de dados estão acelerando a procura por serviços de segurança da informação, Data Center e adequações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Depois que a Serasa ficou sob suspeita de vazar 223 milhões de CPFs há cerca de um mês e o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça, notificou as operadoras Claro, Oi, Tim e Vivo, cobrando explicações sobre o vazamento de mais de 102 milhões contas de celular, há uma semana, a maior parte das empresas está percebendo que um vazamento pode afetar seus negócios e sua imagem.
 
“Não se tinha visto tanta movimentação na busca por serviços de proteção aos dados até a divulgação desses grandes vazamentos”, ressalta Flávia Brito, CEO da Bidweb, empresa que oferece serviços especializados em segurança da informação. A empresária analisa que há visível correlação nos vazamentos, porque os dados são muito diversos e devem ter vindo de várias fontes distintas. “Eles envolvem informações como poder aquisitivo, faixa social, participação em programas de governo, INSS e até a propriedade de veículos”, analisa Flávia.
 
Em outras palavras isso quer dizer que esse volume da dados tão detalhados tem grande valor no mercado da deepweb – área da Internet que fica “escondida” e tem pouca regulamentação – onde estariam sendo comercializados a U$ 1,00, via bitcoins, segundo a Psafe, outra empresa especializada sem segurança cibernética.
“Imagine se os dados de sua empresa vazam para seu concorrente e ele tem acesso a informações relevantes sobre o perfil de consumo de seus clientes e isso permitir a ele uma abordagem assertiva? É por isso que se torna cada vez mais estratégico o cuidado com os dados. E o melhor lugar para guardá-los é num data center”, recomenda Flávia.
 
Ela lembra que o custo para uma empresa manter uma estrutura própria protegida 24 horas por dia, sete dias na semana, é bem alto. “Os data centers têm estruturas prontas e disponíveis para dar segurança, com tecnologias, disponibilidade e profissionais especializados. Hoje a maioria das empresas está migrando para os data centers, que pressupõem uma estrutura bem superior ao que você poderia ter dentro de sua empresa”, diz. “Esse é um caminho sem volta”, assegura a especialista.
 
Essa tendência é confirmada pela Surfix Data Center, que tem sede em Recife. “As consultas subiram muito nas duas últimas semana. O cliente está realmente preocupado com a segurança de seus dados”, diz Dárcio Macedo Filho, sócio e diretor comercial da Surfix. Ele ressalta que os empresários estão percebendo que precisam ter seus dados sob vigilância sistemática. “E os que buscam um data center local fazem isso porque, se houver problemas, eles sabem exatamente com quem falar”, explica.
 
No ambiente altamente protegidos dos data centers, existe tanto a opção de manter os dados em servidores dedicados (físicos), quanto também numa nuvem. “O cliente escolhe. Quando ele opta por colocar também na nuvem, é porque não quer se preocupar com manutenção e atualizações tecnológicas de seus equipamentos, custo assumido pelo data center”, explica Macedo.
 
O sócio da Surfix acrescenta que a demanda por serviços já vinha crescendo antes dos últimos vazamentos, impulsionada pela entrada em vigor da LGPD e pela pandemia. “A LGPD veio para determinar mais cuidado com os dados, e a pandemia, impôs o home office, o que expôs os servidores das empresas a diversos acessos remotos, tornando-os mais vulneráveis”, diz Macedo. Ele acrescenta, porém, um outro fator: a necessidade de reduzir espaços físicos. “Muitas empresas entregaram ou reduziram suas instalações, optando por transferir seus dados para um data center”.
 
Nestes ambientes é possível contratar serviços sob demanda, com desenho da solução de armazenamento atendendo às exigências do cliente. “Um serviço customizado fica mais fácil quando é projetado a quatro mãos e isso requer, na maioria das vezes, a interação humana”, explica Macedo.
 
Tanto Macedo quanto Flávia alertam, porém, que manter dados num data center não é suficente para garantir total segurança porque esses dados podem ser vazados por pessoas que tenham acesso a eles nas empresas. Ou seja, funcionários. É por isso que os últimos vazamentos têm impulsionado outro tipo de serviço: o treinamento de equipes para estar em conformidade com a LGPD.
 
“Vimos que a pressão sobre as empresas cresceu muito após os últimos episódios. Isso tem feito a procura por serviços de adequação à LGPD crescer bastante de duas semanas para cá. As empresas estão pedindo não só a adequação à lei nos departamentos mais sensíveis, mas também treinamentos de colaboradores, para ensiná-los a evitar vazamentos”, revela a advogada Carmina Hissa, sócia fundadora de Hissa & Galamba Advogados e professora de Direito Cibernético.
 
“Muitos vazamentos são provocados por colaboradores, grande parte sem intenção”, explica Carmina. Ela acrescenta que outro serviço que tem sido muito solicitado é a formação do Comitê Gestor de Crise. “Isso acontece porque as empresas começam a se preocupar com o impacto em sua reputação quando ocorre um vazamento”, diz, calculando um aumento de 40% na demanda. “E elas precisam saber se posicionar quando vazam dados”, diz a advogada.
 
Com informações do Blog Movimento Econômico