Para os municípios cada vida perdida é parte da própria cidade que morre

Por Nely Brandão

Observando a divisão dos papéis na pandemia verificamos que o Governo Federal contabiliza os dados, gera as estatísticas e apresenta em gráficos, a parte “mais fácil” dentre as prioridades do que deve ser realizado. Claramente existe uma ordem, e nem precisa ser um especialista da área para enxergar que o mais importante é a infraestrutura das unidades de saúde. Passados 365 dias entre o primeiro lockdown e o segundo, nos perguntamos, onde está a estrutura montada no ano passado? A prioridade tem sido atualizar todos os dias post de Instagram, onde está a transparência sobre insumos básicos adquiridos, os preços praticados e as ações de melhoria do ambiente de trabalho para os profissionais de saúde.

Neste caso a ordem dos fatores altera sim o produto, porque vidas, para o governo federal, estão sendo números e gráficos. Mas para quem perdeu alguém são histórias inacabadas entre mães, pais, irmãos, filhos… E mesmo nesse momento de dor e luto, pensemos como seria diferente a história se houvesse uma infraestrutura de saúde melhor, e se a vacina tivesse sido adquirida a tempo?  Notas e discursos de pesar não geram resultados! Tampouco conseguimos enxergar quais as medidas que foram adotadas para a segunda onda! As notícias mais atualizadas é que que faltará insumos básicos para atendimento nas unidades.

Para evidenciar que a cooperação e definição de prioridades faria toda diferença, como exemplo de enfrentamento podemos ver a Costa Rica, com padrão de renda menor que o Brasil e com o obstáculo de ter apenas 1 médico para cada 1 milhão de habitantes, o país se estruturou de forma planejada, observando a situação de outros países e agindo a tempo. O governo definiu o protocolo de enfrentamento antes de ter o primeiro caso suspeito, e na mesma eficiência um mapeamento claros e entendido pela população, que devido a comunicação eficiente seguiu as recomendações.

Do lado de cá, qual o protocolo do Governo Federal mesmo?  Cada um da federação por si, é apenas uma gripezinha. E o protocolo do Governo de Pernambuco?  Fechem os hospitais de campanha, a primeira onda já passou, vamos torcer para não chegar a segunda onda! E após 365 dias a segunda onda chegou e ouvimos o mesmo discurso, estamos estruturando as unidades de saúde! Quanto às empresas privadas, o estado permite funcionar apenas o “essencial”, como concessionárias para garantir a compra e venda de veículos! E os governos municipais?

São os municípios que estão mais próximos da população, eles vêm se comunicando com as pessoas, colocando a mão na massa para vacinar de forma segura e rápida, fiscalizando as atividades essenciais, e devem manter a estrutura de saúde primaria funcionando, mesmo que equipe de planejamento também execute. Estão fazendo o que podem com o que tem, afinal é o governo municipal que mais sente a realidade! Tem como prioridade a saúde, tem que pensar na economia com sustentabilidade, mesmo em meio ao caos, lembrando que para o gestor municipal os óbitos tem nome e sobrenome, tem histórias e memórias. Não, os municípios não atualizam número e gráficos, eles sentem cada pessoa que se foi, afinal, cada vida perdida é parte da própria cidade que morre.