O nazismo e o fascismo marcaram de maneira terrível o século XX no mundo, não são um ponto fora da curva e nem tão pouco parte apenas de uma pauta antissemita ou contra uma ideologia específica, ou mesmo a simples materialização do ideário de seus líderes, Adolf Hitler e Benito Mussolini. São parte de um movimento que, toda vez que seja necessário, surge para atender as demandas da grande burguesia, e não algo extraordinário.
Tais movimentos ganham força e se inserem na crise do capital nos anos 20 e 30 do século XX, servindotambém para defender interesses dos capitalistas, em particular a burguesia do ocidente. Sempre é bom lembrar que Hitler contou com apoio de expressivos setores da burguesia alemã para interromper o crescimento do Partido Comunista daquele país e impedir o que tais setores acreditavam ser uma possível transição ao socialismo.
Aqui é onda mora o perigo: a máquina de propaganda potencializada em particular em tempos de redes sociais e internet, transforma fenômenos como esse em exceção. Oséculo XXI e a nova crise do capitalismo, a terceira grande crise, segundo Karl Marx, nos trazem o retorno com força desse fenômeno como parte da engrenagem de sobrevida do regime, isso vai ocorrendo por dentro do sistema eleitoral tradicional mesmo, na Alemanha também foi assim, com o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (o Partido Nazista) atingindo maioria no parlamento e conseguindo articular alianças que viabilizaram a indicação de Hitler como chanceler, que logo depois dissolve o gabinete ministerial e começa uma escalada autoritária de concentração de poder.
Tal semelhança com as atitudes dos fascistas do século XXI alçados aos governos pelo voto não é aleatória, adotam agendas de cunho autoritário, via de regra ameaçando os demais poderes da República, e tentando triturar interesses da classe média e dos trabalhadores para dar sobrevida aos do grande capital. Se apresentam como algo “novo”, diferente, mas na verdade são uma versão agudizada dos interesses que movem o sistema e o status quo.
Com a crise cíclica do capitalismo tendo traços nunca antes vistos, acabam por ganhar setores da grande população que dão um tiro no próprio pé, elegendo seus algozes para retirarem seus direitos e desmontarem os serviços sociais dos Estados nacionais mundo afora. Tal agenda para ser executada não sobrevive na democracia plena, daí os movimentos para reforças os poderes dos fascistas do momento e diminuir os dos parlamentos, da sociedade e da justiça, basta olharmos para a Argentina, para Hungria e para o que foi o Brasil sob a batuta de Bolsonaro, que ainda deixou sequelas que aos poucos vão sendo desmontadas.
Thiago Modenesi – Professor na UFPE, Doutor em Educação, Especialista em Ciência Política, membro do INCT iCeis.