“Nós éramos chamadas de tudo. Até de Comunista e sapatão”, Efigênia Oliveira

Coluna de Olho na Política- Exclusiva para o Cabo de Santo Agostinho

Segunda-feira, 08 de março de 2021

Por Jorge Lemos

Uma história que precisa ser contada e recontada. Mulheres que se somaram a outras em busca de um mundo melhor. O Cabo tem história de mulheres combatíveis que venceram a descriminação e o preconceito por serem mulheres de luta, que naquela época lutavam pelo básico para a sobrevivência humana: A Água. Efigênia Oliveira conta que não tinha água nas torneiras, algumas casas do Cabo tinham poço. A água chegava na madrugada e as mulheres passavam a noite acordadas esperando chegar a água para cuidar dos afazeres domésticos. “Fizemos um abaixo assinado, levamos para o Governo e, em poucos dias, a água começou a chegar durante o dia”, contou Efigênia, no filme “”Quando Me deixam falar”. Ela falou também que apartir daí decidiram fazer uma associação de moradores e juntou homens e mulheres, elegendo um homem autoritário como ela conta no filme. Depois, convocaram uma assembléia com a participação de mulheres de vários bairros da cidade. Surgiram vários nomes e o que ganhou foi Centro das Mulheres do Cabo.

Pelas mãos de Efigênia Oliveira, Francisca Alves, Mirtes Cordeiro, Conceição Nascimento, Silvia Alexandre, Silvia Cordeiro, Dona Loudes de Ponte dos Carvalhos e tantas outras mulheres combatíveis, nasceu em 1984, o Centro das Mulheres do Cabo. Em sua trajetória, o CMC vem desenvolvendo ações que visam conscientizar as mulheres sobre seu papel na sociedade, priorizando a formação de multiplicadoras e fortalecendo a luta das mulheres contra as desigualdades de gênero e pela afirmação da cidadania. As ações do CMC são substanciadas em processos e práticas sócio-educativas, inspiradas no feminismo, que resgatam a mulher enquanto sujeito e cidadã

“O Centro para chegar, onde chegou custou muitos sacrifícios, muitas lagrimas, muito sofrimento porque a gente foi acusada de mil coisas, principalmente pela minha presença por conta do bairrismo do local que era muito grande e chegar com essas idéias que para eles eram absurdas. De comunista a sapatão, a gente era tudo”, conta Efigênia no filme.

A voz feminina na Câmara

A primeira mulher a assumir o mandato na Câmara de Vereadores do Cabo foi Maria José dos Santos Carneiro, conhecida como Maria de Zequinha. Enfermeira, eleita para o primeiro mandato em 1992, com 912 votos, pelo PDC, a segunda mais votada daquele pleito. Exerceu a vereança por cinco mandatos, sendo a mulher com mais mandatos. Em 2000, mais duas mulheres assumiram vaga no legislativo cabense: Efigênia Oliveira, eleita com 1.252 votos, a segunda mais votada do pleito e Abnoam Gomes com 1.037. Nesta legislatura, a Câmara passou a ter três vereadoras: Maria de Zequinha, Efigênia e Abnoam Gomes. Em 2004, a professora Ana Selma foi eleita com 2.015 votos. Nesta eleição, Maria e Abnoam foram reeleitas. Efigênia Oliveira, disputou a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho. Já em 2008, Edna Gomes foi eleita com 3.960 votos, a segunda colocada do pleito e a mulher mais votada da história política do Cabo. Nesta legislatura, Edna licenciou-se para assumir a secretaria de Programas Sociais, ficando só Maria de Zequinha naquela casa. Em 2012, a Câmara ficou sem representatividade feminina. Em 2016, Edna Gomes retorna ao mandato no legislativo com 2.267 votos. Ela se licencia do cargo de vereadora e assume novamente a secretaria de Programas Sociais. A suplente irmã Dudinha, assume uma candeira no legislativo no lugar de Cesar Paiva, que assumiu a secretaria de Esportes. Em 2019, Tereza da Bomboniere assume o mandato no lugar do Irmão Del, que foi cassado. Nas eleições de 2020, a bancada feminina foi reforçada na Câmara. Tereza da Bomboniere foi eleita com 2.155 votos, sendo a mais votada do pleito. Sueleide de Amaro do Sindicato com 1.366 votos e Gisele de Dudinha 1.245 votos.

A primeira mulher a ser vice prefeita –

Edna Gomes da Silva, bacharel em Direto, foi a primeira mulher a assumir a vice prefeitura em 2013, cargo que exerceu até 31 de dezembro de 2016. Ela rompeu com o prefeito, Vado da Farmácia. Foi uma das incentivadoras de um manifesto, quando o então prefeito Vado, nomeou um homem para a secretaria da Mulher. Edna, que já tinha sido vereadora no período de 2008 a 2012 e retornou o mandato parlamentar em 2016. Nos dois mandatos se licenciou para comandar a secretaria de Programas Sociais, onde criou no governo Lula Cabral, a coordenadoria da mulher e depois a secretaria da Mulher.

A primeira deputada estadual –

A publicitária, Fabíola Cabral, foi a primeira deputada estadual cabense. Mesmo nascida em São Paulo, sua principal base eleitoral é o Cabo de Santo Agostinho. Filha do então prefeito, Lula Cabral. Eleita em 2018, obteve naquele pleito 41.857 votos. Exercendo o primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Fabíola preside a Comissão de Ciência e Tecnologia.

Secretaria da Mulher –

O Cabo de Santo Agostinho recebeu a secretaria da Mulher em 2009. Foi implantada na gestão do prefeito Lula Cabral (PSB). A primeira secretária foi Edilene Rocha. Em seguida, a advogada e militante feminista, Lucidalva Nascimento. Na gestão Vado, um homem assumiu a secretaria da mulher. As mulheres protestaram contra decisão do prefeito que depois nomeou Tereza da Bomboniere como secretária. O Cabo foi uma das cidades pioneiras na implantação da secretaria da Mulher depois do Estado.

O Cabo como pioneiro da Lei Maria da Penha –

O Cabo também foi pioneiro com a primeira mulher beneficiada com a Lei Maria da Penha, no Brasil, no dia 22 de setembro de 2006. A beneficiada foi Cileide Cristina da Silva, moradora da Charneca. A advogada que primeiro fez uso da lei foi Lucidalva Nascimento do Centro das Mulheres do Cabo de Santo Agostinho.

Centro de Referência –

Em 2010, o Cabo ganhou o Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher em Situação de Violência Doméstica e Sexista. O centro tem como objetivo proporcionar às mulheres cabenses acesso aos serviços de assistência social, saúde, educação, justiça, habitação, segurança, trabalho e renda, além de apoio psicossocial às vítimas da violência.

Delegacia da Mulher –

O Cabo também recebeu sua delegacia da Mulher. A 14ª DEAM, funcionava na Delegacia Seccional, na Vila Santo Inácio. Em 2016, ganhou um prédio próprio onde funcionava a antiga Compesa, em Pontezinha. A unidade conta com recepção e brinquedoteca; salas de Boletim de Ocorrência, administrativa, da delegada, do comissário e de investigação; cartório; cela; alojamento para policiais; copa; banheiros feminino e masculino.