O Blog do Jorge Lemos inicia nesta quinta-feira (04/03) uma série de entrevistas exclusivas com os prefeitos de primeiro mandato. O primeiro da nossa série é Paulo Roberto, gestor de Vitória de Santo Antão. Empresário na área educacional, Paulo tem 60 anos, é do MDB e venceu a eleição em 2020, com 40.665 votos, desbancando o prefeito que disputava a reeleição, Aglailson Júnior (PSB). Vitória de Santo Antão tem 142 mil habitantes. Prestes a completar 65 dias de governo, Paulo diz que pegou uma prefeitura sem transição e sem dados importantes para iniciar a gestão. Mesmo assim, prefere não olhar pra trás, antes investir no futuro.
Jorge Lemos – Como o senhor encontrou a prefeitura em 1° de janeiro, já que não houve, conforme a lei, uma transição administrativa?
Paulo Roberto – Pegamos uma prefeitura para descobrir o que iríamos fazer dentro da administração. Tudo era novidade, das reuniões que eram para ter sido feitas com as equipes de transição, nenhuma foi realizada. Nossa equipe não teve nenhum contato presencial e até mesmo remoto com a equipe do governo passado. As informações foram poucas, mas desde o primeiro dia de trabalho, e até antes mesmo, eu tinha dito que as dificuldades seriam vencidas com talento. Não é um fato isolado de um prefeito, é um ‘fato real’, comunitário e de uma equipe que trabalha. Essa equipe suplantou essas dificuldades e hoje o município da Vitória de Santo Antão já começa a ter um voo de cruzeiro.
Jorge Lemos- Qual o saldo deixado pela gestão anterior nas finanças e projetos?
Paulo Roberto – O saldo da gestão anterior é tudo aquilo que ele teve condições de fazer e a cidade estava pedindo para fazer algo mais do que ele deixou. Então, o saldo pra gente ter uma ideia é mudar tudo o que você encontrou.
Jorge Lemos – O ex-prefeito deixou débitos na Prefeitura?
Paulo Roberto – Os débitos são comuns do que fica numa prefeitura. Não posso ser presunçoso em relação à gestão passada ou a qualquer outra. Mas temos muita coisa para pagar e colocar no eixo. Você precisa ser administrador e não político de política partidária, então acho que foi o grande problema que ficou para nossa gestão: administrar uma cidade ou uma prefeitura que sonegou dados. Não ficaram os computadores, os HDs e muitas informações. Foram emitidos dados que não seria necessária a omissão. Foi simplesmente a forma de atrapalhar o processo de uma administração que se iniciava. A gente tem que saber que o poder é transitório, e quando estamos à frente de uma Prefeitura, seja no Executivo de qualquer uma das esferas, a gente tem que ter a responsabilidade de repassar para o próximo gestor, o que fez ou deixou de fazer. Por isso, tivemos uma grande dificuldade, mas temos uma equipe preparada que mudou a situação.
Jorge Lemos – Como o senhor encontrou a folha salarial e a Previdência Municipal?
Paulo Roberto – A Previdência Municipal é um problema, não só para Vitória, mas para todas as outras cidades no país. 90% ou mais encara problemas na previdência, assim como em todo o país. Se faz necessário uma mudança na previdência do nosso município, uma reestruturação para que a gente possa ter condições de dar continuidade, se não for feito isso, o prejuízo será enorme para as futuras gerações de aposentados.
Jorge Lemos – Ainda há aporte financeiro da Prefeitura?
Paulo Roberto – Há total aporte financeiro, o município poderia ter R$800 milhões acima e hoje e tínhamos R$27 milhões. A partir do primeiro mês em que assumimos elevamos esse valor a R$30 milhões, e na sequência, fazendo dessa forma, com fé em Deus, nos 12 primeiros meses teremos um aporte muito bom para a previdência, mas significando que esse aporte é prejuízo para o município, pois o Executivo deixa de investir.
Jorge Lemos- De quanto é esse aporte?
Paulo Roberto- O aporte mensal fica em torno de R$4 milhões. Fora o patronal que é pago, fica em torno de R$5 milhões. Mas não pode cometer a insanidade de tirar dinheiro de um fundo e pôr em outro e fazer esse tipo de pedalada, teremos que fazer uma reforma previdenciária para proteger o pensionista.
Jorge Lemos- Em relação à folha de pagamento?
Paulo Roberto- A folha estava em dia, não tenho o que dizer diferente disso, mas teve que ter alguns ajustes. Os excessos eram muitos. Às vezes as pessoas fazem uma administração mais política do que profissional e o prefeito hoje tem que ser um gestor, e é nessa qualidade que estamos administrando a cidade.
Jorge Lemos- Em relação aos primeiros dias de gestão, o senhor tomou uma atitude de não aumentar os salários, tanto do seu, do vice e dos secretários para os próximos quatro anos
Paulo Roberto- Os subsídios de vereador, prefeito e vice-prefeito. Não foram incluídos os de secretários, isso pensaremos mais para frente. A atitude foi tomada pensando na crise que estamos passando, a crise sem precedentes. Quando você se dispõe a ser um prefeito, vereador ou vice o intuito é de contribuir com a sua cidade, minimizar os efeitos gravíssimos que estamos enfrentando diante de uma pandemia, na área social. É triste se ver uma situação em que nossa cidade e outras do mundo, estão passando por esse arrocho financeiro. E, além disso, quando quem não exerce um cargo político não tem nenhum tipo de aumento, dar um de 25%, 26% para prefeito, vereador é injusto. Quando se calcula uma cidade como Vitória é um valor de R$3 milhões que é economizado. Esse dinheiro serve para saneamento, compra de medicamentos e para o investimento nas pessoas. Temos que correr em uma reforma administrativa.
Jorge Lemos – O que o senhor encontrou nos índices de educação, IDEB e os números da saúde em geral?
Paulo Roberto- Uma construção da desconstrução que Vitória vem passando. É paradoxal você dizer, mas foi construído isso, onde você vê uma cidade que é a 17° do país com capacidade para receber novas indústrias. Isso está na URBAN SYSTEM, publicada na revista Exame, no manual do empresário que quer instalar uma indústria em qualquer parte do Brasil. Estamos em posição de destaque no Porto de Cabedelo e de Suape, do Aeroporto dos Guararapes. Uma cidade que tem gás natural, água, banda larga, mão de obra especializada, uma cidade que tem tudo, o 50° lugar entre as 5 mil cidades que tem no Brasil. Vitória é a 17° em captação em empresas, 59° na prestação de serviço e 71° no comércio e 77° na educação, incluindo a educação em geral. Em relação aos índices do IDEB, nós somos a 11° cidade da Zona da Mata, com o pior IDEB, de 13 cidades. Vitória é a maior cidade
Jorge Lemos- Em relação à segurança, se vê que Vitória aparece muito nas páginas policiais. Como a prefeitura, em conjunto com o Estado, enfrentará essa questão?
Paulo Roberto- Através da segurança primária, começa no município, para que a gente possa “startar” uma política de segurança junto com o Estado e com a própria União, mas nós precisamos também ser vistos em relação a isso. Nós temos uma Guarda Municipal que nem se quer tem um carro, o que tem está sendo cedido por outra Secretaria. Aí cabe aos órgãos de Estado e Governo Federal, também observar, não só Vitória, mas também outras cidades.
Jorge Lemos – Em relação a investimentos, como você tem preparado o município nessa construção de receber novos investimentos e na geração de empregos?
Paulo Roberto- Investimentos. Tem muita gente que acha que apurado é lucro. Apurado não é lucro. Os recursos próprios de um município não podem ser colocados, principalmente em período eleitoral, para começar a calçar ruas, e fazer reformas, quando se faz isso deixa o município endividado. Os recursos próprios vêm do seu IPVA, IPTU, ISS, ICMS, mas se você não incentiva a cultura da contribuição, que é a parte do cidadão, não há verbas de IPTU e outras taxas e você começa a gastar, e gastar aquilo que poderia ser investido na gestão atual ou futura. Temos que trabalhar uma cultura educacional do pagamento das taxas para que nós possamos investir melhor no desenvolvimento.
Jorge Lemos – Como a cidade de Vitória tem atravessado esse momento da Pandemia do Coronavírus, acerca do enfrentamento à doença e a queda de arrecadação?
Paulo Roberto – Agora, com muita prudência, no sentido de indicar as pessoas do distanciamento social, com a higienização, em saber usar o álcool 70%, seja líquido ou gel, em saber que aglomeração não é importante e que temos que dar importância a quem a gente ama. Mas a nossa cidade enfrenta índices que não são positivos, até na Geres temos um número por cada 100 mil habitantes, em que Vitória é a 2ª colocada no ranking negativo de Pernambuco. Em números absolutos nós tivemos quase 190 óbitos. Aí é onde temos que ter a prudência de saber ditar as regras. Estamos procurando conscientizar as pessoas para que sigam as regras sanitárias para que haja a geração e o fomento do comércio novamente. E o ICMS caiu muito de dezembro do ano de 2020, esse ano de 2021 será um ano de um gestor que tenha capacidade e talento para administrar a cidade.
Jorge Lemos – Qual o balanço que o senhor faz dos 60 dias de gestão à frente da Prefeitura?
Paulo Roberto – De muito trabalho, rápido, já foram 60 dias. Quando você não tem um mapa de administração, e não podia fazer no chutômetro, por isso criamos uma equipe de pessoas capacitadas, essas pessoas vêm contribuindo muito, e o saldo está sendo positivo. Já realizamos trabalhos em todas as áreas da educação à saúde, geração de emprego e infraestrutura. Estamos trabalhando. Sair da cultura de administrar para grupos, números e siglas partidárias. Hoje Vitória está vivendo um novo normal administrativo, onde é possível conversar com os entes públicos e tendo resposta.
Jorge Lemos – Qual será a marca da sua gestão?
Paulo Roberto- Liberdade, esperança, que as pessoas tenham consciência de que teve um início quando elas nos escolheram para que a gente administrasse a cidade e que fossemos porta voz desse povo. Então o grande legado será o da liberdade, de poder pensar, de querer empreender, se tudo isso for somado, você vai chegar no principal que é a liberdade e a força de expressão.
Jorge Lemos – Como o senhor tem trazido sua experiência na área privada para a gestão pública?
Paulo Roberto- Tem uma diferença, eu me preparei muito para ser prefeito, para ser gestor, achei que tinha feito tudo que era para se fazer, cursos, seminários, já tinha sido vice-prefeito, pós-graduação. Vim da iniciativa privada, onde você vai e resolve, e chega no cargo de prefeito e percebe que pouca coisa é igual aquilo que está no papel. Só se aprende com vivência, querendo aprender. Todo dia estou aberto a novos desafios e ao aprendizado.
Jorge Lemos- Qual a sua relação com a Câmara de Vereadores?
Paulo Roberto- Ótima. Infelizmente, em Vitória, na atual legislatura, não temos nenhuma mulher como representante do nosso povo. Foi baseado nisso que nós colocamos uma subprefeita no distrito de Pirituba para representar as mulheres da cidade. Mas os vereadores que estão na câmara são compromissados, sabem do intuito da nova gestão e não terão nenhum problema comigo, pois não irei fazer pedidos pessoais, e sim solicitações e projetos de leis que sejam favoráveis à população vitoriense. Mas iremos respeitar o contraditório, partindo sempre do princípio do diálogo. O legislativo é independente, mas é harmônico com nosso município.
Jorge Lemos- O senhor tem maioria dos vereadores?
Paulo Roberto- A cidade da vitória faz a maioria, eu fui eleito com quatro ou cinco candidatos na nossa base.
Jorge Lemos- Qual a relação da gestão municipal com o governo Estadual?
Paulo Roberto- Ótima, tive o primeiro contato com o Governador Paulo Câmara, fui recebido por alguns secretários e o governador do nosso Estado sabe que tem um município que quer mostrar os valores, que tem e quer ser respeitada a nível de Estado. Nós temos um gestor profissional, Paulo Câmara, à frente do nosso Governo, que sabe como tomar as posições a respeito dos municípios. Já vi que Vitória de Santo Antão, como Escada, vão ter o prazer de ter o recapeamento da PE-45, que liga Vitória a Escada e também Pernambuco à BR-232. Quero colaborar com isso, dar condições para que Vitória tenha projetos executados, e estamos sentindo que o governo vai trabalhar por Vitória.
Jorge Lemos – O que a população de Vitória pode esperar para o primeiro ano de gestão? Uma obra que possa ter um significado importante para a cidade?
Paulo Roberto- As pessoas têm que levantar a autoestima, essa é a principal obra. As pessoas devem respeitar, ter esperança. De obras físicas, temos para todas as áreas, saúde, educação. Estamos fazendo tudo, por exemplo, até o final do ano estaremos com cinco creches ou mais em atuação, já estamos com tudo planificado. São 60 dias para dar soluções a problemas que são centenários aqui na nossa cidade e transcendem gerações. O esgoto sanitário chamado Rio Itapacurá, responsável por 22% da água que vai para a região metropolitana, corta a cidade de Vitória, deságua na barragem de Tapacurá e é um esgoto a céu aberto e nós estamos trabalhando para ir em busca do Governo Federal, Estadual e COMPESA para fazer o melhor para Vitória de Santo Antão, então são essas ações que faremos. Eu vou ter esse relacionamento com o Governo do Estado para que nós possamos melhorar os serviços da COMPESA no município ou a cidade passe administrar esse recurso, vamos fazer aqui em Vitória o que está sendo realizado atualmente.
Jorge Lemos- Qual a atual arrecadação da cidade?
Paulo Roberto- Cerca de R$380 / 390 milhões. Muito pouco para uma cidade com o porte de Vitória de Santo Antão. Temos que ter muito mais do que isso e no ano período de crise temos que aumentar esse número.