Mercado Imobiliário e os vendedores de ilusão

Por @prof.sandroprado

A crise que assola a maioria das atividades econômicas não chegou com a mesma intensidade ao mercado de imóveis e algumas ponderações sobre o tema são importantes para reflexão. A aquisição de um imóvel não é simples, pelo contrário, o processo de decisão de compra costuma ser extremamente complexo. A compra de um imóvel demanda um grande investimento que, por vezes, compromete a renda futura da família no pagamento das parcelas.

A redução gradativa da taxa de juros Selic até chegar ao patamar mínimo de 2% a.a., no mês de agosto de 2020, trouxe ânimo extra ao setor e um considerável incremento no Índice de Velocidade de Vendas (IVV). Porém, este mar de brigadeiro não durou muito. A Taxa de Juros Selic que hoje se encontra em 3,5% a.a. deverá sofrer um novo reajuste e ficar acima dos 4% a.a. na reunião do COPOM, em meados de junho. O aumento da Selic e a projeção de novos reajustes acabam por inibir a compra de imóveis. A expectativa de juros futuros mais elevados impacta nas parcelas, ou seja, o imóvel financiado fica mais caro.

O reajuste da Selic também reacende o interesse pelos investimentos em aplicações de Renda Fixa. Tesouro Direto, CDB, LCI, LCA e até a Caderneta de Poupança volta a ser observada pelo investidor tradicional menos propenso a correr risco e que sempre flerta com a possibilidade de aquisição de um imóvel.

Outro problema enfrentado pelo setor é que com a aceleração do IVV veio a aceleração do Índice Nacional da Construção Civil (INCC) “a inflação da construção civil” que disparou, desde meados do ano passado aumentando sobremaneira os custos da construção, refletindo nos preços dos imóveis ao consumidor final.

A Pandemia também trouxe mudanças nas preferências e a tendência de micro imóveis –apartamentos com um quarto e menos de 40 metros quadrados – foi substituída por imóveis maiores e/ou com plantas para espaços multifuncionais com lugares reservados para os escritórios, imprescindíveis para o Home Office e com espaços de convivência, como as varandas Gourmet, para a família que passa a habitar por muito mais tempo os imóveis. Há também a tendência a descentralização e, espaços periurbanos antes preteridos pelos compradores, voltam a ser procurados, bem como, o aumento pela procura de condomínios horizontais.

O mercado Imobiliário também teve um incremento e diversificação da demanda com o aumento dos Fundos Imobiliários – “condomínios” de investidores cujo recursos financeiros são utilizados na compra ou construção de imóveis destinados normalmente ao aluguel ou arrendamento.

O brasileiro com perfil conservador ou moderado ainda enxerga o imóvel como um investimento seguro e rentável. Se recorda do tempo onde o maior sonho de consumo era a “Casa Própria”, aplicação segura era a Caderneta de Poupança e que, dificilmente, arriscam seus recursos financeiros em tendências.

O discurso dos “vendedores de ilusão” que abarrotam as redes sociais afirmando ser o investimento em renda variável extremamente rentável e seguro, que criam e vendem fórmulas mágicas para qualquer pessoa se tornar um milionário da noite para o dia no mercado de capitais, não parece surtir efeito em pessoas mais sensatas e experientes que não seguem o efeito manada do mercado financeiro ou, se preferir o bom e velho dito popular, não são: “Maria vai com as outras”.

Sandro Prado é economista e consultor