Lisos e desiludidos no interior de Pernambuco

Por: @prof.sandroprado

Que a pandemia de Covid-19 em conjunto com os erros e omissões no enfrentamento da crise sanitária e econômica geraram índices elevados de desemprego, a população de um modo geral já percebeu. A taxa de desocupação, divulgada pelo IBGE, mostra que 14,4% da População Economicamente Ativa (PEA) está desocupada – o maior número da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua).

O Brasil possui 100,3 milhões de pessoas com idade entre 15 e 65 anos, aptas ao trabalho. Em números absolutos representa um contingente de 14,4 milhões de desempregados – pessoas que estão à procura de emprego e não conseguem trabalho. Em Pernambuco a situação não é diferente. Alguns municípios do interior do Estado tiveram reduções alarmantes de postos de trabalho. O destaque negativo está para Terra Nova, município com população de 9.278 habitantes e PEA de 3.240 pessoas (IBGE, 2000) que perdeu (-76,9%) dos postos de trabalho entre abril de 2020 e março de 2021. Outros municípios que tiveram baixas significativas foram: Betânia (-35,9%), Poção (-25,6%), Santa Filomena (-24,1%) e Flores (-20,6%), conforme dados divulgados pelo SEBRAE, PE.

Um dos reflexos da falta de emprego e renda em cidades do interior do Estado é o desejo que desperta na população de migrar para os centros urbanos em busca de oportunidades. Durante décadas – “migrar para São Paulo” – esteve no imaginário dos pernambucanos de municípios periféricos e até dos residentes na Região Metropolitana de Recife.
Reajustes reais do salário mínimo, iniciados no primeiro mandato do Presidente Lula, e outras políticas públicas redistributivas de renda foram essenciais para a dinâmica econômica dos municípios pernambucanos. A interrupção da Política de Valorização do Salário Mínimo no governo Bolsonaro, que já projetou na semana passada os novos valores para 2022, 2023 e 2024 sem qualquer reajuste real, afeta diretamente mais de 50 milhões de brasileiros.

A péssima gestão da crise pandêmica, pelo Ministério da Saúde e da crise econômica, pelo ministro Paulo Guedes, vem transformando pessoas que, outrora conseguiram trabalho, renda e dignidade residindo e laborando em sua terra natal, em cidadãos cada vez mais lisos e desiludidos.

Sandro Prado é economista e consultor