De novo, as instituições

Por Priscila Lapa

Na semana que passou, tivemos mais uma vez instituições colocadas em xeque pela classe política, mais especificamente pelo presidente Bolsonaro e seus seguidores. Fora toda a discussão sobre o voto impresso, que revelou do dia para a noite especialistas em tecnologias digitais de urnas eletrônicas, agora mais uma instituição virou alvo: o Tribunal de Contas da União (TCU).

Para tentar justificar a conduta adotada no combate à pandemia, o presidente tornou público um dado, supostamente produzido pelo TCU, segundo o qual os registros de mortes por Covid 19 pelos Estados superestimavam as ocorrências. Seriam cerca de duzentos mil óbitos a mais, de acordo com Bolsonaro. Imediatamente após essas afirmações, o órgão publicou nota oficial dizendo não haver qualquer relatório produzido com esse teor. Em seguida, tudo ficou esclarecido: um auditor do órgão (amigo adivinhem de quem?) produziu por sua própria conta o suposto relatório e tentou emplacar na casa decisões que o chancelassem, mas, como não havia qualquer respaldo, não vingou.

A confusão estava formada. O servidor está sendo alvo de sanções internas, mas agora o TCU está sob a desconfiança daqueles que sonham que o mundo inteiro esteja equivocado e o “mito” correto em suas convicções acerca do combate à pandemia. Agora é o TCU que precisa ficar dando explicações. O presidente apenas precisou dizer “acho que me equivoquei” e está tudo certo.

O mesmo que diz que o presidente do TSE não entende de nada, porque é contra a instituição do voto impresso, quando há mais de vinte anos o país investe em tecnologias para dar suporte ao sistema de votação, inclusive em auditorias e mecanismos de segurança. Mas agora é conveniente acusar o sistema e seus guardiões – e eles que se virem para provar que se trata de uma estratégia política de alguém que diz o que quer, na hora que quer, e fica por isso mesmo.

E de instituição em instituição que vai sendo “detonada”, o que nos restará? Num país em que a autoridade máxima no campo da Saúde – o Ministério da Saúde – não decide o rumo das políticas públicas de combate à pandemia, para não contrariar as crenças do presidente, temos o personalismo em sua versão da era digital, em que as instituições pouco importam.

Priscila Lapa é Cientista Política e jornalista