CPI da Covid: Marcos Tolentino fica em silêncio sobre real dono da FIB Bank

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia ouviu, nesta terça-feira (14), o empresário e advogado Marcos Tolentino, apontado pela Comissão como “sócio oculto” do FIB Bank, que teria oferecido garantias à Precisa Medicamentos em negociação da vacina indiana Covaxin com o governo federal.

Durante depoimento no Senado Federal, Tolentino afirmou que não tem influência sobre o FIB Bank e que, também, não auxiliou nos trâmites da compra da Covaxin entre Precisa e o Ministério da Saúde. Ele argumenta que, na época, estava internado em decorrência da Covid-19.

A Comissão aprovou um pedido do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que solicita ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma auditoria nas contas do FIB Bank.

Ao ser questionado por senadores na ocasiao sobre quem seria o real dono do FIB Bank, Tolentino decidiu ficar em silêncio, mas negou ser sócio da empresa. Mesmo sem autorização do Banco Central, a empresa concedeu garantia apresentada pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde no contrato de fornecimento de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, a mais cara já negociada pela pasta.

O empresário é suspeito de ser sócio oculto do FIB Bank. Embora não seja formalmente sócio do FIB Bank, ele é citado em ações judiciais como “sócio oculto” da empresa, como antecipou a “Folha”, e também consta como procurador e representante legal de uma empresa sócia do FIB Bank, a Pico do Juazeiro. Essa firma é registrada no mesmo endereço da Rede Brasil de Televisão, principal empresa de Tolentino.

Amparado por um habeas corpus emitido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário preferiu usar o direito de ficar em silêncio e não respondeu à maioria das perguntas dos senadores.

Quando o relator da CPI, Renan Calheiros, perguntou se alguma empresa de Tolentino recebeu valores do FIB Bank pela emissão da garantia em favor da Precisa Medicamentos, o depoente disse que não, mas Renan rebateu em seguida. O relator da CPI lembrou que a Precisa pagou R$ 350 mil ao FIB Bank pelo serviço. E afirmou que as movimentações financeiras em posse da comissão mostram que, desse valor, a maior parte, R$ 336 mil, foi repassada a uma empresa de Tolentino. Depois disso, o depoente preferiu se manter em silêncio.

Durante a sessão, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) destacou uma série de elementos apontando que Tolentino é de fato dono do FIB Bank, como por exemplo o fato de a secretária dele ter poder para tratar das cartas de garantia da empresa. Outro indicativo é o fato de endereços e telefones do FIB Bank coincidirem com o de uma empresa de Toletino.

O empresário chegou a confirmar apenas que seu escritório de advocacia funciona no mesmo prédio de outras empresas sob suspeita dos parlamentares, entre elas a MB Guassu, que integralizou capital de R$ 7 bilhões para a FIB Bank a partir de um terreno. E contou que conhece o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), há muito anos, tendo com ele apenas um vínculo de respeito e amizade.

“Sobre a minha ligação com o deputado Ricardo Barros, que eu sei que é uma coisa que cabe declarar que se trata de um conhecido há muitos anos, desde que eu morei em Curitiba e residi na cidade, sendo que até hoje mantenho com ele vínculo de respeito e amizade, nada mais do que isso”, disse Tolentino.

Barros foi parar na CPI depois que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) denunciou suspeita de irregularidades no contrato entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde para a compra da Covaxin. Miranda relatou que esteve reunido com Jair Bolsonaro e lhe informou o problema. O presidente teria dito então, segundo o deputado, que “isso era coisa de Ricardo Barros” e que iria determinar uma investigação.

Barros é também réu por improbidade administrativa na Justiça Federal em processo sobre contrato do ministério da Saúde, quando ele era ministro, com a empresa Global, que recebeu pagamento adiantado, mas não forneceu os medicamentos que deveria. A Global é sócia da Precisa, empresa sob suspeita que negociou a Covaxin.

Em seu depoimento à CPI, Tolentino afirmou ainda conhecer o presidente Jair Bolsonaro da época em que ele era deputado federal, mas sem nenhuma relação de amizade. Contou também conhecer dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de eventos políticos e sociais, mas disse desconhecer Jair Renan.

“Não possuo nenhuma amizade pessoal ou qualquer outro tipo de relacionamento junto ao presidente. Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais. Encontrei também como presidente, e isso é totalmente registrado. No que diz respeito aos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, declaro que os dois primeiros conheço de eventos políticos e sociais. Já Jair Renan Bolsonaro não conheço”, afirmou.

À CPI, o empresário destacou que, no período de negociação da Covaxin, estava internado na UTI com Covid-19. Depois de ter saído, teve que reaprender até mesmo a andar, se alimentar e cuidar de sua higiene.

“Estava totalmente fora de quaisquer atividades profissionais, sociais, o que impossibilitaria qualquer participação ou interferência no ato ou acontecimento correspondente à compra ou negociação da vacina Covaxin. Aí, creio que, em situações normais, somente esse fato seria suficiente para o entendimento, compreensão da exposição que os jornais fizeram, da humilhação que a gente tem como empresário, como pai, como filho, algo, eu tenho certeza absoluta, que sofri, e não participei e não tive participação em cima disso”, declarou.