Com tanta riqueza por aí onde é que está a sua fração?

@prof.sandroprado

A queda na renda do brasileiro para níveis vexaminosos expõe a dura face da desigualdade de renda no Brasil. A divulgação dos novos números da renda média reflete o cenário de desesperança, de parte significativa da população, com o futuro do país.

A média da renda do brasileiro que, no período de janeiro à março de 2020 era de R$ 1.122,00, desabou para R$ 995,00 no primeiro trimestre de 2020. Significando que, se toda a renda nacional fosse dividida de forma equitativa, teríamos um valor inferior ao atual salário mínimo para cada brasileiro.

A inflação oficial acumulada nos últimos 12 meses, que alcançou a marca de 8,06% em junho, derruba ainda mais a renda. Corrigida monetariamente a renda média deveria ter se elevado para R$ 1.211,73, para ser mantido o poder de compra, e não ter sido reduzida para R$ 995,00.

O Brasil está na lista dos dez países mais desiguais do mundo e figura em segundo lugar no Ranking da Concentração de Renda da ONU. Números assustadores mostram que o 1% mais ricos acumulam mais de 30% da renda total do país. Parte significativa do bolo é devorado por poucos e muitos recebem apenas miseras migalhas, quando recebem.

O poder desta opulenta elite é tamanho que o Imposto Sobre Grandes Fortunas, previsto na Constituição cidadã de 1988 no inciso VII do artigo 153, até hoje não foi regulamentado. O lobby é tão intenso, eficiente e eficaz que nossos representantes não ousaram fazer a regulamentação e iniciar a tributação.

Durante a gestão do falastrão Ministro da Economia, Paulo Guedes, não há de se esperar que os números melhorem embora ele ainda pretenda “jogar dinheiro para os mais pobres”. A partir do segundo semestre, a mando de Bolsonaro que colocará todas as cartas na mesa para alavancar a popularidade do seu péssimo Governo, haverá políticas públicas populistas de distribuição de renda como um tal de “bolsa verde amarela”, ou algo similar. Os números serão maquiados na tentativa de alcançar o maior objetivo do governo Bolsonaro desde o início do mandato: a reeleição.

Somos um país onde a extrema maioria da população é composta por pobres ou miseráveis onde alguns, de forma ilusória, julgam pertencer a famosa “Classe Média”. Os integrantes da Classe Média, composta por pequenos empresários, professores, comerciários, industriários, bancários, dentre outros, não perceberam o quanto pobre são. Se percebessem se juntariam aos milhões de desempregados, desalentados, subutilizados e todos os classificados pelo IBGE como pobres e miseráveis e, juntos, entoariam o coro “Com tanta riqueza por aí onde é que está, cadê sua fração?” E quem sabe, alguma coisa muito nova, poderia acontecer!

Sandro Prado é economista e consultor