Aprendizados em um ano

Por Priscila Lapa

Um ano é tempo suficiente para tirarmos lições. As medidas adotadas pelo Governo do Estado nunca agradaram a todos, até mesmo porque essa não era a sua principal motivação. A arte de governar, aliás, é saber lidar com as intempéries, gerir crises, enxergar oportunidades e, por vezes, saber arcar com decisões dolorosas, desagradáveis, impopulares.

Em meio a uma pandemia, dificilmente há decisões confortáveis. Um ano depois, impor uma quarentena não é tranquilo. Convencer as pessoas que elas terão que arcar novamente com uma cota de sacrifício é desagradável. Mas, diante dos números do contágio, da ocupação dos leitos, do limite do sistema de saúde, que outra decisão seria plausível?

O primeiro ponto a se esclarecer é que o isolamento social é medida de frear o contágio, achatar a curva, não de imunização da população. E mais: seus efeitos são colhidos pelo menos duas semanas depois. A sensação de que não funciona advém de dois aspectos: as pessoas (aquelas que podem) não respeitam, não aderem, julgam que sua liberdade individual está acima de qualquer outro valor. Além disso, com o retorno às atividades, as pessoas relaxam as medidas preventivas e aí novas ondas surgem, geralmente com mais potência, em razão das mutações que o vírus sofre. Tem sido assim em diversos lugares do mundo.

Outro esclarecimento é quanto às crenças sobre a realidade. Num cenário em que a ciência deve dar todas as respostas, muitas pessoas preferem fontes alternativas, mais confortáveis. Como nosso sistema de saúde sempre esteve repleto de falhas, o discurso de que a situação sempre foi assim é uma licença para agir como se não houvesse pandemia.

O Governo anunciou uma prorrogação da quarentena seguida de uma abertura gradual, sob novos protocolos. Mais uma vez, se não houver a adesão das pessoas, nada disso vai funcionar. Ao menos desta vez a capacidade de diálogo com o setor produtivo foi ampliada e o Governo sabe que não tem como segurar a economia parada por mais tempo. A lição de 2020 foi que não dá para gastar todos os recursos sem saber quando novas ondas podem surgir.
A esperança representada pela vacina segue atropelada por números que nunca batem, por promessas de lotes que depois são reajustadas, pela incapacidade de negociação com os fabricantes, mas seguimos acreditando, porque é o que resta à maior parte da população.

O verdadeiro dilema atual não é saúde versus economia. Outras nuances estão nesse meio: qual o real limite do sistema de saúde? Você estaria disposto a pagar pra ver? Em que outra época da nossa história recente o cuidado especializado, intensivo, foi tão demandado? Como regular um sistema quando todo ele está no limite máximo da sua capacidade? Como separar lucro de necessidade de sobrevivência? Como a mão do Estado não pesar sobre o setor produtivo quando precisa arrecadar para manter os serviços em funcionamento? Que sacrifícios devem caber a cada parte: Estado, mercado e cidadãos?

É sobre bom senso versus fanatismo. É sobre conviver sem negar a realidade.

Priscila Lapa é Cientista Política