À CPI, Hang nega ter financiado fake news e participado de gabinete paralelo

Nesta quarta-feira (29), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouviu Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan. Na sessão, marcada por tumultos e uma suspensão, Hang afirmou que soube pela CPI que a Prevent Senior omitiu a Covid-19 do atestado de óbito da mãe dele. O empresário também negou ter financiado Fake News e participado do chamado gabinete paralelo, que supostamente aconselhava o presidente Jair Bolsonaro sobre o tratamento precoce.

O requerimento de convocação de Hang já estava aprovado desde o dia 30 de junho. Integrantes da cúpula da comissão passaram a pedir seu comparecimento depois que médicos da Prevent Senior entregaram um dossiê segundo o qual a rede teria fraudado o atestado de óbito da mãe do empresário, Regina Hang.

Internada em hospital da rede Prevent Senior, operadora que tem sido investigada por supostamente prescrever de forma sistemática medicamentos sem eficácia comprovada e ocultar mortes pela covid-19, a mãe de Hang tomou hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e colchicina, além de ter passado por procedimentos também ineficazes, como ozonioterapia.

Regina Hang morreu aos 82 anos, no dia 4 de fevereiro, mas no atestado de óbito não constava que o motivo havia sido a covid-19. O empresário atribuiu a omissão ao plantonista que preencheu o documento e disse que, em seguida, ele foi corrigido. O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, no entanto, confirmou à CPI que a operadora orientava médicos a mudar o código de diagnóstico (CID) dos pacientes internados com covid-19.

Hang disse não ver “o interesse do hospital” de mentir sobre a morte da mãe dele. “Qual era o motivo, se eu já havia dito publicamente que ela estava internada e estava com covid? Ainda fiz uma live explicando e lamentando o fato de ela não ter feito o tratamento preventivo”, lembrou. Tratamento preventivo, segundo ele, seria tomar remédios antes de ser internada com covid-19.

O empresário, assim como o presidente Jair Bolsonaro e aliados, defende desde o início da pandemia o uso de remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid. A CPI investiga o quanto a defesa dessas medicações pelo presidente prejudicou o combate à pandemia no país.

O depoimento começou com Hang se negando a prestar o compromisso de falar a verdade, por estar sendo ouvido na condição de investigado, não de testemunha. O advogado do empresário afirmou que “a orientação da defesa dele é que ele não tem de assinar esse documento, porque esse documento é destinado a testemunha”.

“Hoje sou vítima de um conjunto de narrativas, única e exclusivamente por eu não ter medo de falar a verdade, me expor e mostrar meu apoio. Sou acusado sem provas e perseguido apenas por dar a minha opinião. Aliás, no Brasil existe crime de opinião?”, afirmou Hang sobre a investigação.

O empresário ainda admitiu à CPI que tem “duas ou três” contas no exterior, em paraísos fiscais. Segundo ele, todas declaradas na Receita Federal. O colegiado investiga se ele utilizou dinheiro depositado fora para financiar veiculação de notícias falsas sobre a pandemia, mas ele nega. “Nunca financiei nenhum esquema de fake news e não sou negacionista”, disse.

Hang também precisou se explicar após ter negado que fez empréstimos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), levou aos senadores a informação de que o empresário já fez diretamente 57 operações  com o banco público entre 1993 e 2014, no valor de 27 milhões de reais.

Segundo Hang, o valor é equivalente ao que as lojas Havan faturam em um dia, e a maioria das operações foi para comprar equipamentos e máquinas pela Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame), subsidiária do BNDES. “Ninguém perguntou ‘foi para comprar o quê?’. Nós perguntamos se houve a operação”, disse o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL).