A Vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE), Drª Thaíse Torres, demonstrou preocupação com o anúncio feito pela Secretaria de Saúde do Estado sobre o encerramento das atividades do Hospital Jesus Nazareno (antiga Fusam), em Caruaru, após a inauguração do Hospital da Mulher da cidade, prevista para março deste ano. Durante um debate promovido pela Rádio Cultura do Nordeste, nesta sexta-feira (02), a pré-candidata a vereadora da cidade destacou que o fechamento da unidade pode dificultar o acesso das mulheres e crianças à saúde pública.
“Fomos pegos de surpresa com essa informação e isso muito nos preocupou. Quanto Conselho, temos a responsabilidade de garantir o dimensionamento dos profissionais e a assistência de qualidade. Até o momento, não temos informações sobre a relocação dos mais de 400 profissionais de enfermagem que atuam na unidade. Já existe uma superlotação. Pelo tamanho da cidade de Caruaru, o município e toda a região carecem de um novo equipamento. Não é encerrando as atividades de um Hospital que isso será resolvido.”, destacou Drª Thaíse Torres.
Além da representante do Coren-PE, participaram do debate dois membros do corpo médico da unidade, Drª Nadyvan Queriroz e Dr. Frederico Araújo, e o integrante da loja maçônica Dever e Humanidade, Rui Sousa. Durante o encontro, os participantes esclareceram que a informação repassada por representantes da Secretaria de Saúde do Estado, de que os herdeiros do antigo proprietário do terreno, onde hoje encontra-se a unidade, teriam solicitado a devolução do espaço, obrigando a gestão do estado a encerrar as atividades do Hospital.
“Desde o segundo semestre do ano passado, começaram a surgir os boatos sobre o fechamento do Hospital Jesus de Nazareno. Recorremos ao Ministério Público de Pernambuco e conseguimos uma reunião com representes da Secretaria de Saúde do Estado. Esse encontro ocorreu em outubro passado e na ocasião, as representantes da secretaria informaram que os antigos donos haviam solicitado a devolução do terreno. O espaço pertencia a Maçonaria, que inclusive foi responsável pela construção do Hospital. Eu entrei em contato com representantes da loja maçônica e fui informado que os herdeiros do doador, de fato, teriam entrado com um processo para a devolução. Mas legalmente isso não é possível, pois o terreno foi doado ao estado”, explicou o médico Frederico Araújo, que atua na unidade há 42 anos.
Em posse da escritura que atesta a doação do terreno, o representante da loja maçônica Dever e Humanidade, Rui Sousa, explicou que o espaço foi repassado ao estado por um integrante da Ordem, em 1954. “É uma inverdade que a Maçonaria teria solicitado a devolução do terreno do Hospital. Os três pilares da Maçonaria são: irmandade, igualdade e fraternidade. Mandar fechar um hospital vai na contramão da natureza da Ordem”, destaca Sousa.
O Hospital Jesus Nazareno possui 102 leitos e é referência no atendimento a gestantes, recém-nascidos e crianças. Por mês, chegam a ser realizados mais de 500 partos na unidade. O hospital atende a moradores de Caruaru e de toda a 4ª Região de Saúde, que corresponde a mais de 30 municípios que ficam localizados no agreste do estado.
“Nós queremos acreditar na sensibilização de que essa decisão seja revista. O Coren-PE tem esperança que isso ocorra. Nós encaminhamos ao MPPE um ofício solicitando uma audiência com a Secretaria de Saúde para que possamos entender os motivos da suspensão do serviço. Entendemos as justificativas do Estado como improcedentes e queremos esclarecimentos. Há muito tempo se fala sobre a superlotação do Jesus Nazareno, há muito temos sonhamos com uma nova maternidade. E agora, quando esse sonho está preste a ser realizado, vamos precisar fechar uma maternidade que atende a toda a região? Lembrando que fechar uma maternidade é recorrer ao Recife, é transferir pacientes de forma muitas vezes insegura para a capital. Se podemos manter o Hospital aberto, por que não fazer? Nós, juntamente com a população de Caruaru, clamamos a manutenção do serviço”, cobra Drª Thaíse Torres.
Questionada sobre o diálogo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, a representante do Coren-PE, foi taxativa. Segundo ela, é algo deficiente. “Nós procuramos o Estado para tentar resolver muitas outras causas. Há muito tempo, tentamos abrir um diálogo sobre a situação caótica Hospital da Restauração, do Hospital Getúlio Vargas, do Hospital Otávio de Freitas e agora estamos com essa situação aqui em Caruaru. Para nós, a saúde é prioridade, mas o Estado não compreende que prestar uma saúde com segurança à sociedade é um bem comum. A nossa prioridade sempre será focada nas pessoas que recebem os serviços da enfermagem. Comparando a gestão anterior, a comunicação ficou ainda pior. A gente envia ofício, tenta abrir diálogo, mas ficamos no limbo”, destaca a pré-candidata a vereadora de Caruaru.
Coren-PE – Na última terça-feira (30), o Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE) já havia externado a preocupação com o encerramento das atividades do Hospital Jesus Nazareno. Em nota, a autarquia informou que a transferência do atendimento para o novo Hospital da Mulher do Agreste “dificultará ainda mais o acesso das mulheres e crianças à saúde pública na região, que já sofre com diversos outros problemas”. Ainda segundo a nota, o Conselho solicitou uma reunião ao Ministério Público de Pernambuco, requerendo que o órgão promova uma audiência junto à Secretaria de Saúde do Estado, afim de que todas as dúvidas sejam esclarecidas.